"- Como esquece? Você deve ter sofrido muito.
- Claro, é normal, não é? As coisas dele ali, todos os dias, sem ele. A cama vazia. Uma falta, eu sentia uma falta. - Sorriu para si mesmo. - Dor, dor, dor. Lembrei duns versos do Ferreira Gullar, o Beto gostava do Ferreira Gullar. Uns versos assim:
Será maior a tua dor que a daquele gato que viste a espinha quebrada a pau arrastando-se a berrar pela sarjeta sem ao menos poder morrer?
Pérsio sorriu de volta.
- Pois lembrei de outros. Do Ferreira Gullar, também. Há Ferreira Gullar para todas as ocasiões, eu sempre gostei. Presta atenção neste. - E recitou, devagar:
Amigos morrem,
as ruas morrem,
as casas morrem.
Os homens se amparam em retratos.
Ou no coração dos outros homens."
Adorei o blog, boa sorte
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