Das delicadezas do amor

Um acúmulo bonito de coisas que não consigo nem mostrar.

5 de maio de 2010


"- Como esquece? Você deve ter sofrido muito.

- Claro, é normal, não é? As coisas dele ali, todos os dias, sem ele. A cama vazia. Uma falta, eu sentia uma falta. - Sorriu para si mesmo. - Dor, dor, dor. Lembrei duns versos do Ferreira Gullar, o Beto gostava do Ferreira Gullar. Uns versos assim:

Será maior a tua dor que a daquele gato que viste a espinha quebrada a pau arrastando-se a berrar pela sarjeta sem ao menos poder morrer?

Pérsio sorriu de volta.

- Pois lembrei de outros. Do Ferreira Gullar, também. Há Ferreira Gullar para todas as ocasiões, eu sempre gostei. Presta atenção neste. - E recitou, devagar:

Amigos morrem,

as ruas morrem,

as casas morrem.

Os homens se amparam em retratos.

Ou no coração dos outros homens."

Um comentário: