Das delicadezas do amor

Um acúmulo bonito de coisas que não consigo nem mostrar.

21 de dezembro de 2010


Devolva o verso que escrevi faltando rima, devolva a foto, o perfume e o buquê, devolva o quadro na parede ali em cima, o crucifixo e a pintura em dégradé. Devolva o livro que esqueci no mês passado, o alicate, a lanterna luz neon, meu par de tênis, meu casaco desbotado ,devolva os discos de vinil do Chico e Tom.

Recolha a chapa que prepara misto quente, o saca rolha, o Cabernet, o cobertor. Me dê também o meu chaveiro ali pendente, e o bebedouro que eu comprei pro beija-flor. Quero estar certo que levei cada lembrança, é bem verdade que de um fim nasce um começo. Dê-me este copo que ganhei quando criança, e o guarda-chuva que desvira pelo avesso.


É meu também aquele vaso na janela, quero a tesoura, o abajur e o calendário, retire as frutas e devolva-me a tigela, faço questão do peixe azul dentro do aquário. Se bem me lembro, essa faca torta é minha, mande de volta o canivete europeu, faça a fineza de buscar lá na vizinha aquele porta-guardanapo que é meu.

Agora sim, dou meia volta e vou-me embora, coisas da vida... ora filme, ora intervalo.
O coração, só esse Dou pra senhora, quem sabe um dia eu volto aqui para buscá-lo?

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[Jomar Magalhães]

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