Das delicadezas do amor

Um acúmulo bonito de coisas que não consigo nem mostrar.

14 de julho de 2011


Suspiramos. A fumaça saindo de nossas bocas pelo frio da madrugada. Os dois sentados na calçada da velha praça deserta de almas. Havia algum tempo que não falávamos nada nem olhávamos. Os fios gotejando sereno, seus olhos serenos. Resolvi olhar, por fim, seu corpo meio contraído se segurando, para não dizer nem fazer algo doce, com frio. Acho que fiz isso pra não esquecer-se que eu estava ali, que estive. Sorriu.

- O que foi?
- Nada, oras. - sorri também.
- Que está olhando tanto?
- Você.
- Por que?
- Teu corpo.
- O que que tem m-
- Parece meio... rígido.

Desviou o olhar, olhando pra frente. Tragou o cigarro e soltou distraidamente. Não iria falar, conheço-te. Apontou pra frente erguendo o queixo. Disse:

- Se lembra?
- O bar da velha Helena? Claro, era ótimo e íamos sempre. Uma pena mesmo. Câncer, né? Parece que eu sempre soube, ela estava sempre com uma cara péssima de quem não dormia há séculos.
- Se lembra daquele sábado?
- Lembro. Lembra do que falávamos? Sempre penso nisso.
- Não, bom, você sabe que eu não lembro de nada mais.
- É, eu sei. - pontada, cabeça baixa. Se virou pra mim.
- E então?
- Ah.. - sorri em forma de desculpa - Falávamos sobre ir pra Argentina tentar a vida. Eu não tinha idade suficiente, então bolávamos planos em como dar um jeito pra eu ir morar com você. Venderíamos camisas pra poder comprar miojo que a gente nem sabia se existia lá.
- E o que você sempre pensa?
- Nisso, oras. De como foi belo a gente planejando a vida juntos assim, mesmo antes de, bom, mesmo antes de tudo, compreende? - sorriu, como um sim. - Antes mesmo até das suspeitas. Começaram nesse dia. As minhas, digo.
- As minhas também. - rimos.
- Lembra como você deu na pinta me emprestando seu casaco preferido e pegando outro terrível? Depois fui pra casa com seu cheiro nos braços, onde afundei o rosto pra dormir em paz. No início fiquei extremamente intrigado, mas depois cedi e adormeci.
- Sim, você já me contou isso algumas várias vezes. - riu lindo.
- Desculpe - corei -, é que gosto dessa história.
- A nossa?
- A Nossa.

[...]

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