Das delicadezas do amor

Um acúmulo bonito de coisas que não consigo nem mostrar.

3 de abril de 2014

Meu amigo escritor conseguiu uma boa mulher
Ela cuida dele, troca lençóis e prepara ovos e torrada
Ela diz sempre: “ Esse é um bom desjejum. “
Ele se sente confortável e protegido quando a ouve dizer esse tipo de coisas.

Então ela sai pra trabalhar
Parece que ela é uma espécie de executiva importante
Nunca me interessei muito em saber de onde
vem o dinheiro deles

E agora ele passa os dias em casa escrevendo
Bebendo um vinho devagar e assistindo programas de tv
Ele conhece todas as subcelebridades e o que fazem nos seus momentos de lazer

Creio que isso contribua muito para sua literatura
Ele coloca o lixo pra fora
E às vezes senta nas escadas fumando cigarros light
E ouvindo música sinfônica no velho rádio

O único souvenir que guardou de sua vida miserável
Ele diz que sua mulher o considera uma espécie de gênio incompreendido

Talvez ela tenha razão
Eu também não o compreendo
Ele assina abaixo-assinados pra salvar o boto cor de rosa e
Em protesto pela menina da Uniban

Joga desinfetante na privada
E parece gostar do cheiro de amônia que fica pela casa

Às vezes passo em frente à casa dele

E vejo ele fumando seus cigarros light sentado na escada
Ele faz sinais pra que eu me aproxime
Eu aceno de volta e sigo o meu caminho

Sempre mantive distância desse tipo de segurança

Eu tenho essa amiga que é atriz pornô
Ela me mostra os peitos sempre que a vejo

Me leva pra cozinha do bar e diz:

“ Vem aqui, segura, mas não aperta. Não é gostoso?

Em qual feira você encontra melões como esse?”
E então solta uma sonora gargalhada.
Eu fico pegando nos peitos dela e rindo também.

Mario Bortolotto – Um bom lugar para morrer.

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