Das delicadezas do amor

Um acúmulo bonito de coisas que não consigo nem mostrar.

24 de agosto de 2011

Por Verônica

"ô minha menina, hoje a noite deixei meu celular cair no vão entre a cama e a parede, e você sabe como fico puto quando isso acontece. sai bateria, chip, desconfigura data e hora. um caos. coloquei a mão no pequeno vão, e apalpava calmamente pra não prender o cotovelo. mera preguiça de arrastar a cama ou me ajoelhar. e daí que mão pra cá, mão pra lá, senti algo diferente do meu celular que havia acabado de cair. não sei porque, senti algo estranho, um frio na barriga enquanto subia a mão com o objeto perdido. era teu. óbvio que era teu. o frio na barriga. algo teu. uma corrente de bijuteria vagabunda. que te fazia coçar inteira o pescoço. tinha um pingente estranho, você dizia que era pra espantar mau olhado. você vivia dizendo sobre essas coisas de mau olhado ? eu acho que você morre de medo disso. e agora? como sobrevive sem o pingente contra o mau olhado? piada. você sobrevive muito bem agora. sem o pingente e sem muitas outras coisas. sem mim. eu rio. puro desespero. ai garota, se tivesse dado tempo de te dizer que eu era apenas um garoto. eu esqueci do celular. pendurei o colar na cabeceira da cama. senti seu cheiro. não, estou exagerando. acho que inventei, lembrei, sei lá. como esses dias que eu lembrei de você caminhando de meia pela sala. aquela tua meia de joaninha. meia esquisita. teu pé era tão bonito. é ainda. e você caminhava da sala pra cozinha, da cozinha pro nosso quarto arrastando a meia pelo chão, fazendo questão de encardi-las. e na hora de lavar as roupas vivia reclamando das meias pretas. nunca entendi. você realmente fazia questão de arrastar os pés. tão bonito o jeito como você anda. dói lembrar, dá saudade. na verdade eu sinto saudade de tudo que vem de você, dentro dessa casa, que se tornou tão vazia depois que você falou, falou, falou e eu não escutei. aí você foi. e eu nem liguei. eu sei que você queria que eu ligasse, mas sou covarde. e hoje estou aqui, deitado na cama inventando seu cheiro, sentindo falta da tua calcinha das meninas super poderosas pendurada na torneira do chuveiro, do porta retrato na cabeceira e do copo de água que você me trazia antes de dormir. também sinto falta dos lápis de cor espalhados pela casa, dos livros que você começava a ler e nunca terminava e iam se acumulando no criado mudo. a cama tá diferente. é incrível, agora tenho ela toda pra mim, e você acredita que eu só durmo em uma metade? o outro travesseiro é intacto. não deixei de lavar as fronhas pra ter teu cheiro e nem os lençóis pra ter o tato das tuas coxas frias. eu troco de fronha e lençol toda semana, assim como você fazia. as vezes até ponho um deflorzinha na esperança que você volte, caminhando de meia pra perto de mim. mas você não vem. nem de meia nem descalça. você taí marcando outras fronhas, sujando as meias em outros chãos. espantando o mau olhado com toda aquela positividade que vi quando te encontrei no supermercado gritando com o caixa porque seu toddynho não tinha canudinho. você é fera menina, brava. intensa. você grita. (também sinto falta dos teus gritos pra eu abaixar a tv enquanto você desenhava no chão da sala algo do tipo nossa futura casa. uma pena nunca termos realizado esse nosso sonho.) eu fui pro corredor do supermercado e fiquei te observando, ali, gritando, lutando pelo seu canudinho no toddynho. eu fui embora sem comprar nada. é assim que eu sempre faço. tratando de você eu não consigo fazer nada. tipo agora, eu queria ter te dado um milhão de canudinhos, e agora, eu queria ligar pra você, dizer como dói a tua falta, e que achei o teu colar. mas meu celular tá lá embaixo, em pedaços. eu vou trocar as fronhas. hoje ponho a que é cheia de florzinhas. que é pra você vir. você não vem, eu fumo um cigarro com teu colar na mão e passo a madrugada toda tentando lembrar como é que esse colar foi parar aqui."

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